Uso de bioetanol para mover motores elétricos: trata-se do uso de desenvolvimento de célula a combustível, que é fruto de parceria entre a Nissan e o IPEN/CNEN, e que acaba de ser renovada

Que a eletricidade também moverá os motores dos veículos, isso não é novidade para ninguém. Em países como a Alemanha, já se anuncia o fim dos motores a combustão até 2030.
Ademais, os elétricos já ocupam parcela da venda das montadoras no Brasil. Trata-se, sim, de uma parcela reduzida, que chegou a 1,6% das vendas totais de autos e comerciais leves no mês de abril, destaca levantamento da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
No entanto, segundo a entidade, o avanço do market share dos elétricos virá mês a mês. Tanto que apenas neste ano ela estima que 28 mil novos modelos serão acrescentados à frota nacional. É pouco menos que o dobro dos 49,559 mil que circulam no país desde 2012, quando o primeiro modelo a bateria elétrica foi emplacado.
Cabe aqui uma observação: o avanço dos elétricos está longe de aposentar, por exemplo, o etanol combustível. Isso porque a depender das tecnologias em curso, o derivado da cana-de-açúcar será, na verdade, um aliado dos motores movidos a kilowatts-hora (kWh).
Melhor ainda: o etanol é matéria-prima para gerar energia elétrica e mover veículos.
Como assim?
Vamos lá. O nome soa como coisa de outro mundo para quem está fora da academia: Célula a Combustível de Óxido Sólido (SOFC). E é ela quem gera eletricidade a partir da utilização do bioetanol, como também é conhecido o combustível de cana.
Pois essa SOFC é fruto de desenvolvimento desde 2019 pela montadora japonesa Nissan e pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), autarquia vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo estadual paulista e gerida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Ministério Da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
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Célula a combustível tem acordo de parceria renovado
Assim como essas tecnologias revolucionárias, a SOFC exige cérebros e cérebros de cientistas, no caso conduzidos por Fábio Coral Fonseca, do Centro de Células a Combustível e Hidrogênio do IPEN/CNEN, instalado no campus paulistano da USP.
E já sabemos que tecnologias nascentes como a SOFC são fruto de árduas pesquisas. O receio é que, assim como outros empreendimentos científicos, também essa ficasse no meio do caminho.
Nada disso. No comecinho deste junho, Nissan e o IPEN/CNEN anunciaram a renovação do acordo de parceria.
Objetivo direto do trabalho em conjunto: avaliar e viabilizar diferentes componentes e torná-los adequados para uso em possíveis projetos em escala comercial.
Está bom. E agora, o que vem por aí?
Há desafios nessa nova fase da parceria.
Um deles é estudar a possibilidade de integrar o reformador – uma peça importante do sistema – à própria célula a combustível.
No mais, outros estudos buscam soluções para a redução do tamanho do sistema.
A saber, a tecnologia de Célula a Combustível de Óxido Sólido da Nissan conta com sistema gerador de potência que se utiliza da reação química do íon oxigênio com diversos combustíveis, incluindo o etanol e o gás natural, que são transformados em hidrogênio na célula, para gerar eletricidade.
O sistema é limpo, altamente eficiente e funciona 100% com etanol ou água misturada ao etanol.
Carbono absorvido durante o plantio da cana
Veja agora o porquê essa tecnologia se integra ao bioetanol, cana-de-açúcar: os engenheiros da Nissan atestam que as emissões são tão limpas quanto a atmosfera, se inserindo como parte do ciclo natural do carbono e sendo absorvido durante a plantação da cana-de-açúcar.
Além disso, o veículo movido a Célula a Combustível oferece a forte aceleração e a condução silenciosa de um veículo elétrico, juntamente com baixos custos de manutenção.
Vale aqui uma explicação: o veículo com célula a etanol produz algum nível de emissão de CO2(diferentemente do que ocorre com um carro elétrico a bateria).
No entanto, os pesquisadores afirmam que é muito mais baixo que qualquer motor a combustão, inclusive abastecido com álcool.
Ademais, as pesquisas e os desenvolvimentos do IPEN/CNEN na área de novas energias renováveis estão em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e com as Ações Mundiais para a redução das emissões de CO2, provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Por fim, essa parceria da Nissan com o IPEN/CNEN está inserida no conceito da Nissan Intelligent Mobility, visão da marca para transformar a maneira como os carros são conduzidos, impulsionados e integrados na sociedade.
Rede de postos a etanol favorece tecnologia
No mais, vale destacar que a Nissan é a primeira empresa a desenvolver e já testar protótipos que são abastecidos com bioetanol para gerar energia elétrica para carregar uma SOFC.
A utilização deste tipo de sistema combinado com a alta eficiência dos motores elétricos e o sistema de bateria garantem uma autonomia superior a 600 km com somente 30 litros de etanol.
E por contar com uma ampla rede de abastecimento de bioetanol – e ser um dos principais produtores do mundo –, o Brasil tem sido peça-chave para o desenvolvimento e estudos de viabilidade do projeto.
O primeiro período de testes com o protótipo real do sistema foi realizado no Brasil entre 2016 e 2017. Dois veículos e-NV200 equipados com o sistema SOFC foram testados pela equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da Nissan do Brasil e demonstraram que a tecnologia se adapta perfeitamente ao uso cotidiano e ao combustível brasileiro, ainda mais pelo fato de o país ter infraestrutura já existente para abastecimento com etanol em todo o seu território.
Atualmente, os testes seguem em evolução conduzidos pela área de Pesquisa e Desenvolvimento da Nissan no Japão com colaboração da equipe brasileira e dos parceiros locais, como o IPEN/CNEN.
Enfim, merece toda torcida possível esperar pelo êxito dessa tecnologia, que une uma montadora de renome, cientistas brasileiros que ficarão na história e um biocombustível, no caso o etanol, que ajuda na transição energética em favor da sustentabilidade ambiental.