Novas altas virão de pressões de custos de matérias-primas como o aço e de componentes da bateria
O preço médio considerado alto geralmente é tido como o vilão para o avanço dos veículos eletrificados no Brasil.
A chinesa BYD, por exemplo, acaba de lançar seu sedã elétrico com dois motores por R$ 540 mil. Marcas concorrentes como a Mercedes também oferecem modelos a R$ 540 mil, enquanto a Porsche disponibiliza um por R$ 640 mil.
Está certo que estes são exemplos para o consumidor de alta renda e, assim como existiram modelos de luxo movidos a diesel ou a gasolina, eles seguirão existindo em versões híbridas (eletricidade e outra fonte) ou puramente elétricos.
Também é certo que montadoras como a BYD já colocam no mercado brasileiro modelos 100% elétricos a partir de pouco mais de R$ 100 mil. Trata-se de um valor equivalente à média dos carros 1.0 turbo a combustão, ou seja, flex (gasolina e etanol).
No geral, as vendas de eletrificados avançaram e fecharam o primeiro trimestre com 9.844 veículos comercializados, segundo a ABVE, entidade do setor.
Desde que entraram no mercado do País, em janeiro de 2012, até março deste ano, a frota total de eletrificados leves soma 86.986 veículos, relata a entidade.
Em nota, Adalberto Maluf, presidente da ABVE, relata que a participação dos eletrificados nas vendas do primeiro trimestre é de apenas 2,6%.
“A participação de mercado dos eletrificados ainda está abaixo do potencial do país”, destaca.
Potencial de crescimento há, até porque o eletrificado é considerado limpo em termos de emissões de gases de efeito estufa, os GEEs, causadores do aquecimento global. Aqui há uma polêmica instalada porque em seu ciclo de vida total o eletrificado também emite carbono.
De volta aos valores, é de convir que mesmo a R$ 100 mil o elétrico está fora do padrão médio do bolso brasileiro.
Por que os preços subirão
Para complicar a situação, se os modelos eletrificados já são considerados caros, eles deverão sofrer novas altas.
Como assim?
Uma das explicações está na composição das baterias dos elétricos puros e híbridos, feitas com alumínio, cobre, níquel, manganês, cobalto e lítio. Em média, eles representam 50% do custo de fabricação da bateria.
“Os preços dessas ‘commodities’ dispararam em um ano e o volume de produção mundial dos elétricos ainda nem decolou”, relata Orlando Merluzzi, consultor e sócio da MA8, no Linkedin.
Para embasar seu comentário,
o consultor apresenta o gráfico a seguir:
Reflexos da invasão russa
Merluzzi vai além.
Segundo ele, as baterias em estado sólido (SSB), que entrarão em produção comercial entre quatro a cinco anos, utilizam ainda mais lítio e níquel em sua composição e continuarão representando metade do custo.
É preciso lembrar, alerta, que todo investimento em R&D dos últimos anos precisará ser pago.
Ainda no caso do níquel, seu valor já subiu 30,4% na Bolsa de Metais de Londres desde a invasão da Rússia à Ucrânia no fim de fevereiro.
Isso porque os russos são os maiores produtores mundiais de níquel, com 10% da capacidade global, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos.
“As sanções impostas à Rússia pela invasão à Ucrânia têm ameaçado a cadeia de abastecimento do metal, importante para a fabricação de aço inoxidável, ligas e baterias de carros elétricos”, relata Arthur Horta em artigo na plataforma TC.
Tem também o aço.
Independente da guerra, em 2021 o seu preço subiu 100%, o do alumínio saltou em 70% e o do cobre em mais de 33% ante 2020, afetando carros convencionais e elétricos, relata Marcos Lira em artigo no site Cidade Verde.
Contudo, ele lembra que apesar do aumentos destes materiais – mais os dos componentes de baterias – os preços das baterias não recebem repasses imediatos.
“Os preços das baterias estão em uma trajetória de declínio de longo prazo e o progresso tecnológico contínuo ajudou a compensar os custos mais altos das matérias-primas”, comenta, lembrando que “há um intervalo de tempo entre os picos de preços dos materiais e os aumentos dos preços das baterias, porque os custos levam tempo para percorrer a cadeia de valor.”
Sim, leva tempo para percorrer, mas uma hora a conta chega.
Como se não bastasse, o consumidor brasileiro enfrenta altas na conta de luz – em média, as distribuidoras acabam de promover reajuste médio de 14%.
Enfim, essa alta também vai para a eletricidade que abastecerá as baterias dos veículos.
Para finalizar, em que pese que a alta da eletricidade e do aço também penalizam a fabricação de veículos flex, esses estão livres do peso dos minerais das baterias.
Ou seja, o flex, se movido a etanol, reduzirá em até 70% as emissões de gases de efeito estufa, na comparação com a gasolina, estando à frente dos elétricos em comparativo de preço de venda.